quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Infinity



Nova Orleães

Aos 14 anos, Nick Gautier é um rapaz normal que se dá com as pessoas erradas. Mas na noite em que decide redimir-se e recusa assaltar um turista inocente, os seus amigos voltam-se contra ele e quando pensa que a sua vida acabou... era apenas o início de uma nova.
O Kyrian da Trácia não é apenas um Caçador de Vampiros, é um Predador da Noite e introduz Nick a um mundo que ele nunca imaginou.
Com novos inimigos que fazem os seus anteriores parecerem medricas, Nick tem a escolha de erguer-se à altura do desafio ou começar a tirar medidas ao caixão. É matar ou ser morto e este miúdo encontra uma força dentro de si que nunca pensou que existisse.
Agora se ele conseguisse alguém que o ajudasse a combater os seus demónios interiores...





Excerto do Livro:


"Sou um totó socialmente desajeitado.”
“Nicholas Ambrosius Gautier! Cuidado com a língua!”
Nick suspirou ao tom aguçado da sua mãe enquanto ficava ali, na sua pequeníssima cozinha, a olhar para a camisa Havaiana laranja vivo. A cor e o estilo já eram maus o suficiente. O facto de estar coberta com e-n-o-r-m-e-s trutas, cor-de-rosa, cinza e branca (ou eram salmões?) era ainda pior.
“Mãe, eu não posso usar isto na escola. É …” – fez uma pausa para pensar bem numa palavra que não o deixasse de castigo para toda a vida – “horrorosa. Se alguém me vê com isto, eu vou ser proscrito, relegado para o canto dos falhados da cafetaria.
Como sempre, ela ridicularizou o seu protesto.
“Oh, chiu. Essa camisa não tem nada de errado. Na loja de benevolência, a Wanda disse-me que a camisa veio de uma das grandes mansões do Garden District. Essa camisa pertenceu ao filho de um homem integro e fino, e desde que é para isso que eu te estou a criar…”
Nick cerrou os dentes. “Eu prefiro ser um delinquente com quem ninguém goze.”
Ela soltou um som profundo de agravamento, enquanto virava o bacon.
“Ninguém vai gozar contigo, Nicky. A escola tem uma política anti-Bullying muito restrita.”
Pois, isso nem valia o papel do contrato em que estava escrito. Especialmente porque, de qualquer das maneiras, os bullies eram idiotas iliterados que não o conseguiriam ler.
Caramba. Porque é que ela não lhe dava ouvidos. Não era como se não fosse ele que ia todos os dias para a jaula dos leões, e que que atravessava a brutalidade dos campos minados do secundário. Sinceramente, ele estava farto e não havia nada que pudesse fazer."
Ele era um enorme falhado e ninguém na escola o fazia esquecer-se disso. Os professores, o director e especialmente os outros alunos.
Porque é que não posso simplesmente acordar deste pesadelo que é o secundário?
Porque a sua mãe não o deixava. Só arruaceiros desistiam da escola e ela não tinha tido tanto trabalho para criar um dessa escumalha. A ladainha estava permanentemente cravada no seu cérebro. Estava juntamente no rank com:
Sê um bom menino, Nick. Acaba o secundário. Vai para a Universidade. Tira boas notas. Casa-te com uma rapariga decente. Dá-me muitos netinhos e nunca faltes à missa. A sua mãe já tinha traçado todo o seu futuro sem direito a paragens ou desvios.
Mas no fim de contas, ele amava a sua mãe e apreciava tudo o que tinha feito por si. Excepto esta coisa de: “Faz o que eu digo Nicky! Não te vou ouvir porque sei o que é melhor para ti”, como ela diria sempre.
Não era estúpido e não arranjava sarilhos. Ela não fazia o que passava na escola e sempre que tentava explicar ela recusava-se a ouvir. Era tão frustrante!
Ah! Não posso apanhar a gripe suína ou assim? Só durante os próximos quatro anos até acabar o liceu e avançar para uma vida onde não existe humilhação constante? Afinal, a gripe suína tinha morto milhões de pessoas em 1918 e teve mais alguns surtos nos anos setenta e oitenta. Era pedir muito por uma nova mutação que o incapacitasse nos próximos anos?
Talvez uma boa dose de Parvo…
Não és um cão, Nick.
Sim, nenhum cão seria apanhado a usar esta camisa. Aliviar-se nela seria outra história…
Suspirando em angústia desnecessária, fitou a camisa que queria desesperadamente queimar. Está bem. Ele faria o habitual sempre que a sua mãe o obrigada a parecer-se com um idiota em chamas.
Ele orgulharia-se.
Não a sério! Isso seria épicamente estúpido.
Age como um homem Nick. Tu consegues. Já lidaste com muito pior.
Sim, certo. Tudo bem. Deixei-nos rirem-se. Ele não o podia evitar de qualquer forma. Se não era por causa da camisa eles usariam outra coisas qualquer para o humilhar. Os seus sapatos. O seu penteado. E se tudo isso falhasse seria o seu nome. Não importava o que dissesse ou fizesse, os que faziam gozavam dele iriam fazer pouco de qualquer coisa. Porque algumas pessoas são apenas construídas da maneira errada e não conseguem viver a menos que façam os outros sofrer.
A sua tia Menyara sempre disse, ninguém te pode fazer sentir inferior a menos que o deixes.
O problema é que o deixava muito mais vezes do que gostaria.
A sua mãe colocou um prato azul lascado ao lado do fogão enferrujado. “ Senta-te querido e come alguma coisa. Li numa revista que as crianças que comem o pequenos almoço têm melhores resultados do que as que não o fazem.” Ela sorriu e mostrou-lhe um pacote de bacon. “E vê, não expirou desta vez.”
Ele riu-se de algo que não tinha piada nenhuma. Um cliente que frequentava o clube da sua mãe era um merceeiro local que lhes dava bacon fora de prazo porque de outra forma o deitaria no lixo.
Desde que o comêssemos depressa não faria mal.
Outra ladainha que odiava.
Pegando no bacon frito, observou o pequeno apartamento que chamavam casa. Era um dos quatro que tinha sido construído a partir de uma velha casa degradada. Tinha três divisões pequenas: a cozinha/sala de estar, o quarto da sua mãe e a casa de banho. Não era muito mas era deles e a sua mãe estava orgulhosa disso e ele tentava também estar.
Na maior parte dos dias.
Ele fez uma careta ao olhar para o canto da sala onde a sua mãe tinha pendurado cobertores azuis escuros de forma a fazer-lhe um quarto, no seu último aniversário. A sua roupa estava num velho cesto de roupa suja, no chão, perto do seu colchão que estava coberto por lençóis do Star Wars que tinha desde os nove anos. Um presente que a sua mãe tinha comprado numa venda de garagem.
“Um dia, Mãe, vou comprar-nos uma bela casa. Como coisas boas lá dentro.”
Ela sorriu mas os seus olhos mostravam que não acreditava em uma palavra do que ele tinha dito. “ Eu sei que vais, querido. Agora come e vai para a escola. Não quero que desistas como eu.” Fez uma pausa e no seu rosto apareceu um sinal de culpa. “ Podes ver exactamente a onde isso te leva.”
A culpa invadiu-o. Ele tinha sido a razão pela qual a sua mãe tinha desistido da escola. Assim que os seus pais descobriram que estava grávida não lhe deram muitas opções. Ou entregava ou bebé ou então podia esquecer a sua casa, a sua educação e a sua família.
Por razões que ainda não percebia, escolheu-o a ele.
Era uma das coisas que Nick nunca esquecia. Mas um dia ele ia recompensá-la. Ela merecia e por ela usaria esta camisa horrosa.
Ainda que o matasse….

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